quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Flores

As pessoas ainda dão flores umas para as outras?
Eu ontem estava voltando do cabeleireiro e vi um rapaz tentando vender buquês de rosas no semáforo da José Maria Lisboa com a 9 de Julho. Eu olhei aqueles buquês e pensei: pra quem ele vai vender isso?
As opções que eu consegui pensar foram: gente atrasada para um encontro romântico/aniversário de casamento e que precisavam pedir desculpas; uma pessoa que gosta de enfeitar a casa com rosas; alguém que gosta de comprar coisas no semáforo.

Mas a verdade é que eu acho que as opções que me vieram à cabeça são todas coisas que eu tirei de seriados e comédias românticas. Exceto pela última. A última vale. Ninguém em seriado para o carro e compra coisas no sinal.

O fato é que, eu não vejo, e nunca vi, alguém ganhar flores que não fosse no Dia das Mães. Nem dia dos namorados. E não tou falando de arranjos ou vasinhos. Digo full-on buquê. De rosas ou a flor que seja.

Eu mesma, nunca ganhei. Ganhei flores duas vezes na vida só. A primeira, um vaso de flores roxas de um namorado. Eu ia agradecer, mas ele foi mais rápido e adiantou que comprar buquê era uma idiotice, porque as flores iam morrer.

Agora, desculpa aí, mas eu não estava ciente de que as flores têm que ser para sempre. Então quer dizer que a sua ideia de presente é algo que não morra nunca? Então me dá uma dancin' flor! No máximo vou ter que trocar as pilhas de vez em quando. O mais triste foi que ele nem deixou fluir o romance. Um vasinho podia ser tão meigo quanto um buquê, mas, no momento em que ele deixou bem claro que era ridículo o buquê, eu senti como se tivesse ganhado uma tarefa, não um presente. É como o peixinho de feira de animais. Você tem a obrigação de mantê-lo vivo, apesar de ele provavelmente ser um bichinho doente e que já veio pra você com uma sentença de morte. Sem contar que tudo que é vivo, expira. E aí o bichinho morre e você sente uma culpa enorme pelo resto da sua vida e passa a achar que nada nunca vai dar certo e que você é um errado.

Ok, passou, passou.

Voltando, o que eu senti era que ele estava me entregando uma incumbência.

"Flores em buquê morrem rápido demais. Sua missão, se você decidir aceitá-la, é cuidar desse vaso de flores roxas para sempre."
"Mas eu não queria um..."
"Nah, too late! Agora você vai cuidar. Beijo me liga!"

E aí eu fiquei brava. Mas como nunca ninguém que eu conhecia (fora minha mãe) ganhou um buquê de flores, eu passei a achar que era normal e que todo mundo concordava.

Flores, supostamente, são para alegrar as pessoas, pra gerar sorrisos e deixar a casa linda e o coração quentinho. Não deveriam ser como um filho inesperado. Quem quer cuidar de flor compra um vaso e faz isso por vontade própria. As flores do buquê são transitórias, e com razão. Elas só simbolizam o momento. É pura magia.

A segunda vez que eu ganhei flores foi de um amigo, como presente para a minha casa, para onde eu havia recém mudado para morar sozinha. Adorei, by the way. Mas não era um buquê.

E aí você se pergunta, pessoa inocente: dar flores é romântico? As pessoas ficam como nos filmes, com os olhos mareados e um sorriso de orelha a orelha? Pessoas escondem buquês de flores nas costas para surpreender a pessoa de quem elas gostam?

Eu não sei. Nunca aconteceu comigo. Mas parece coisa que só existe em comédia romântica mesmo.